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  • A PALAVRA E SEUS MÚLTIPLOS PODERES
    terça-feira, abril 11, 2006

    Platão, filósofo que viveu na Grécia entre os anos de
    427 e 347 a.C, disse que a linguagem é um pharmakon.
    O termo grego pharmakon, que originou a palavra
    pharmáco, daí a nossa palavra pharmácia, possui três
    sentidos principais. São eles: remédio, veneno e
    cosmético.
    Platão considerava que a linguagem poderia ser um
    remédio para o conhecimento. Isto por que? Porque é
    pelo diálogo que trocamos idéias, ouvimos opiniões,
    descobrimos e aprendemos coisas novas com os outros. É
    através da comunicação entre semelhantes que podemos
    ver o quanto ignoramos coisas e assim, ampliar nossos
    conhecimentos. A linguagem possibilita a comunicação e
    o diálogo, logo, remedia nossa ignorância. Talvez
    tenha sido por isto que este filósofo, cujos
    pensamentos influenciam até hoje diversas áreas do
    conhecimento, escreveu sua obra em diálogos.
    Disse também ser a linguagem um veneno. Por que
    veneno? Lembremos agora do discípulo de Platão,
    Aristóteles, que viveu na Grécia entre o ano de 384 e
    322 a.C. Aristóteles disse que os animais possuem voz
    (phone) e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem
    possui a palavra (logos) e, com ela, expressa o bem e
    o mal, o justo e o injusto.
    Vemos que ao utilizar-se da palavra, o homem pode
    tanto expressar o bem quanto o mal, o justo e o
    injusto, e principalmente, criar verdades. As palavras
    seduzem quando ditas de forma segura à quem ignora o
    assunto que está sendo tratado. Aqui voltamos a Platão
    e vemos porque a linguagem, a expressão da palavra,
    pode ser um veneno. Um veneno que seduz e nos faz
    aceitar fascinados, o que vimos ou lemos, sem mesmo
    indagar se tais palavras são verdadeiras ou falsas.
    Aqui está uma forma inadequada de utilização da
    palavra.
    Hoje em dia, vemos em vários setores da sociedade, a
    palavra sendo utilizada como uma linguagem venenosa,
    pois envolve a quem a ouve, fazendo-o acreditar e
    seguir, ceder, aceitar, se colocar a disposição de
    quem as expressa. A classe dos eleitores que o
    digam...
    Seguindo nesta mesma linha de raciocínio, podemos
    também nos defender deste veneno, quando indagamos,
    pedimos provas, duvidamos do que ouvimos. Neste caso,
    aquele que utiliza da palavra como forma de linguagem
    sedutora, inicia então um novo discurso, utilizando a
    palavra no outro sentido dado por Platão; o sentido de
    cosmético, maquiagem, máscara... Espertamente se
    esquivando, tentando manter uma mentira maquiada, uma
    ilusão mascarada de verdade.
    A palavra como vimos, tem o poder de esclarecer assim
    como de enganar. De revelar assim como esconder.
    Palavra com sentimento
    Vejamos o que disse o filósofo francês, Jean Jacques
    Rosseau (1712-1778), em seu “Ensaio sobre a origem das
    línguas”.
    “Não é a fome ou a sede, mas o amor ou o ódio, a
    piedade, a cólera, que aos primeiros homens lhe
    arrancaram as primeiras vozes... Eis por que as
    primeiras línguas foram cantantes e apaixonadas antes
    de serem simples e metódicas”.
    Vemos aí a relação das palavras com os sentimentos.
    Esta relação fica bem marcada quando utilizada com o
    sentido sagrado. Nas orações, nos rituais, quanto mais
    apaixonadas são pronunciadas as palavras, mas
    profundamente promovem o encantamento do mundo,
    levando a quem as expressa ao encontro com o Divino.
    As palavras sagradas nos levam a mergulhar na
    sacralidade, arrastando-nos para seu interior pela
    força de seu sentido, de sua beleza, de seu apelo
    afetivo. É uma palavra que encanta a nós e ao mundo
    que nos cerca, transformando a ambos.
    A palavra como instrumento do poder sagrado, pode ser
    encontrada nas mais diversas religiões. Aqui no
    ocidente, por exemplo, temos a Bíblia, onde na
    abertura encontramos a força criadora da palavra na
    frase: E Deus disse: faça-se!, e assim o mundo foi
    feito.
    Por ele ter dito, foi feito. A palavra aí demonstrada
    como força divina e criadora.

    O poder da palavra no dia a dia

    No nosso dia a dia, podemos perceber que as palavras
    ditas pelo outro nos atingem seja de forma agradável
    ou não.
    O efeito que ela produzirá em nós, dependerá de nossa
    capacidade de absorve-la, compreende-la e manter ou
    não aquela sintonia.
    Um exemplo: o chefe do seu setor reclama com você. As
    palavras ditas vêm com uma carga de energia muito
    negativa. Se você responder no mesmo tom, completará
    este circuito, se sintonizando com esta carga de
    energia negativa. Mantendo-se em equilíbrio e calado,
    este circuito não será completado, sendo assim, a
    carga negativa se manterá em sua origem, produzindo
    assim posteriormente, uma espécie de curto circuito.
    Podemos perceber que sempre quando nos mantemos
    serenos diante destas situações, a pessoa que disse as
    palavras ofensivas, se sente mal, geralmente logo após
    o gesto, pede desculpas ou por conta de motivos dos
    mais diversos, prefere guardar consigo o mal estar (o
    curto circuito) que é produzido.
    Temos de ter sempre em mente que a palavra tem o poder
    tanto de construir como de destruir, de revelar e
    esconder, de expressar o bem e o mal. Todos nós temos
    a capacidade da fala, utiliza-la da melhor maneira
    para benefício de si mesmo e do outro, cabe a cada um
    optar.
    Lembrando de Caetano: a palavra também tem o poder de
    construir e destruir coisas belas.

    Fernando Martins
    jornal Prana e Ganesha.

    http://www.fmterapia.cjb.net
    posted by iSygrun Woelundr @ 6:17 PM  
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